Insistimos na denominação boxe inglês pois indica a origem do chamado boxe moderno e porque existiram e existem inúmeros outros tipos de boxe, praticados em várias partes do mundo. Desses outros inúmeros tipos de boxe, três tiveram um relacionamento de confronto ou influência com o boxe inglês: o boxe italiano tradicional, o boxe francês e o boxe filipino. Nesta matéria, abordaremos o relacionamento boxe inglês x boxe filipino.
-- As artes de combate filipinas:
A maioria delas envolvem o uso de faca, uma arma que era de uso comum por todos os filipinos. Contudo, duas dessas artes não envolvem armas e têm semelhança com o boxe:
- yawyan: luta parecida com o boxe tailandês (muay thai);
- panantukan (ou boxe filipino): luta parecida com o boxe inglês mas, além de envolver socos, usa joelhos, ombros, cotovelos, cabeçadas, golpes baixos etc. Em vez de bloquear socos, prefere-se o parry (desvio de golpes), pois o adversário (numa briga de rua) pode ter uma faca escondida na mão.
Precisamos enfatizar que nas Filipinas dos dias de hoje, além do yawyan e do panantukan, também se pratica o boxe inglês. Assim, no que se segue, para tornar bem claro quando estamos falando no boxe inglês e quando falamos no boxe filipino, usaremos apenas a denominação original, panantukan, para este último.
-- A introdução do boxe inglês nas Filipinas:
Em 1898, os USA declararam guerra à Espanha e ocuparam as colônias que essa tinha nas Filipinas. Foram intensas as lutas de resistência por parte da população nativa, o que resultou na morte de cerca de 4000 soldados estadunidenses. Somente em 1902 Roosevelt pode declarar a vitória dos USA. A ocupação militar americana durou até 1913, e uma das primeiras preocupações dos comandantes militares vitoriosos foi fazer uma integração entre seus soldados e marinheiros com a população nativa.
Uma das soluções achadas foi o boxe. Os estadunidenses gastaram 200 000 dólares (um bom dinheiro, na época) para a construção de um ginásio da YMCA (ou ACM, como dizemos no Brasil) em Manilla, que iniciou a promover eventos com lutas de boxe inglês a partir de 1904. Se os filipinos já podiam ver lutas de boxe, também passaram a ter a oportunidade de serem treinados no boxe inglês quando, a partir de 1902, a Frota Americana passou a substituir seus cozinheiros e camareiros japoneses por filipinos.
Os eventos do ginásio da YMCA e os que ocorriam nos navios envolviam lutas apenas entre estadunidenses (era proibido militares lutarem com civís), o ingresso era grátis e proibiam-se apostas. Logo promotores viram que seria um bom negócio burlar todas essas regras, e iniciaram a promover eventos clandestinos de boxe em Manila e perto das bases do exército e da marinha americana. As lutas desses eventos envolviam soldados e marinheiros estadunidenses, bom como australianos e filipinos. Logo, tornaram-se comuns eventos com público de mais de 5 000 pessoas.
Em 1909, três empresários americanos abriram o Ginásio Olympia de Manila, no qual ocorriam eventos de boxe nas quartas-feiras e nos sábados, sendo que o das quartas dava oportunidade para amadores e para profissionais novatos filipinos.
Em 1921, já há muito terminada a ocupação militar dos USA, o governo filipino legalizou o boxe inglês. Por essa época o boxe inglês praticado por filipinos já tinha expressão internacional. O primeiro filipino a chegar a campeão mundial foi Francisco "Pancho Villa" Guilledo (1 925), um dos melhores pesos mosca de todos os tempos.
O boxe inglês originou o panantukan:
No período da ocupação militar americana, se muitos filipinos passaram a gostar e praticar o boxe inglês, outros procuraram fazer uma adaptação deste com as tradicionais técnicas filipinas de combate com faca. O resultado foi o panantukan.
Um dos resultados dessa adaptação foi um aperfeiçoamento da guarda, que passou a manter o tronco mais erecto que a guarda tradicional do boxe inglês. Ainda influenciados pelo uso da faca, introduziram um jogo de pernas bem mais rápido. Para dar um sabor ainda mais filipino, também acrescentaram ao boxe inglês o uso dos joelhos, ombros, cotovelos, cabeçadas, golpes baixos etc, como já tínhamos apontado.
As artes de combate filipinas influenciaram o boxe inglês, principalmente na guarda. Até cerca de 1900, a guarda mais comum era a guarda inglesa clássica: braços à frente, nós dos dedos da mão voltados para baixo e tronco inclinado para trás. Como não podia deixar de ser, essa também era a guarda dos boxeadores estadunidenses.
A partir da ocupação militar americana nas Filipinas, passamos a ver os estadunidenses adotarem a guarda moderna, também chamada de guarda americana. Para esta mudança são dadas duas explicações.
Praticantes do panantukan da velha guarda, como o famoso Manong Dan Inosanto, contam que durante a ocupação militar soldados e marinheiros estadunidenses viram espetáculos de lutas filipinas, e ficaram entusiasmados com a guarda vertical, velocidade dos socos e jogo de pernas dos lutadores de panantukan. Imediatamente se puseram a adapatá-las ao boxe inglês.
Outros, dizem que nos confrontos militares mano-a-mano, os estadunidenses viram que sua guarda favorecia que os filipinos lhes golpeassem com a faca os punhos e mãos; isso teria levado ao abandono da guarda inglêsa no boxe.
Referências.
- Joseph Svinth: The Origins of Philippines Boxing, 1899-1929.
Journal of Combative Sport, July 2001.
- Krishna Godhania: Western Boxing vs Filipino Boxing, two similar but distinct arts?
site na Internet = Warriors Eskrima, 2009.
Publicado originalmente pela Fed. Rio-Grandense de Pugilismo
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Relacionamento entre o boxe inglês e o boxe filipino
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Yaw-Yan
terça-feira, 30 de agosto de 2011
O karambit, uma das exóticas armas indonésias.
Esta é uma pequena série de artigos sobre o Karambit (por vezes grafado kerambit, koramit e até mesmo kerampit).
O Karambit é uma arma tradicional da Indonésia, adotada por diversos estilos de Silat e também usado nas Filipinas, em algumas modalidades de Kali.
Sua lâmina possui uma curvatura incomum e costuma causar admiração e espanto ao vê-la pela primeira vez.
No primeiro artigo da série, apresentamos a história do karambit.
Karambit sem fio, usado para treinamento |
O Karambit é uma arma tradicional da Indonésia, adotada por diversos estilos de Silat e também usado nas Filipinas, em algumas modalidades de Kali.
Sua lâmina possui uma curvatura incomum e costuma causar admiração e espanto ao vê-la pela primeira vez.
No primeiro artigo da série, apresentamos a história do karambit.
Livros sobre Artes Marciais Filipino-Indonésias
Muitos praticantes de artes marciais estão sempre procurando mais informações sobre suas modalidades preferidas, armas usadas, sobre os países de onde se originam e sua cultura. Com os praticantes de Artes Marciais Filipino-Indonésias não é diferente.
Por isso, gostaria que os leitores do Blog mandassem para o meu email, resenhas de livros relacionados ás Artes Marciais Filipino-Indonésias e Malaias, seus povos, armas e cultura. Livros de língua também contam!
Esperamos que este seja um conteúdo comum do Blog.
Seminário Internacional de Kali Silat, com Tuhon Greg Alland
A FIAMEK (Federação Internacional de Arnis de Mano, Eskrima e Kali Silat), em conjunto com a AMKS (Associação Mineira de Kali Silat) traz mais uma vez o renomado Tuhon Greg Alland para o Brasil, em dois Seminários de 7 horas cada um, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
No Rio de Janeiro, o Seminário do Tuhon Greg ocorrerá dia 12 de Novembro, sábado, de 9h às 16h, no Parque do Flamengo.
Em Belo Horizonte, será no dia 13 de Novembro, mesmo horário, no Círculo Militar.
Para os filiados à FIAMEK, cada dia sai a 90 dólares; não-filiados, 120 dólares. No dia, filiados pagam 120 e não-filiados pagam 150.
Os interessados em participar de ambos os dias podem requisitar facilitações de pagamento.
Instrutores de Kali Silat e Kombato que trouxerem um aluno pagam metade; com dois alunos, entrada franca.
O pagamento pode ser feito integralmente, de uma vez, ou 50% para a inscrição e 50% após 30 dias. Sua vaga estará reservada com o primeiro pagamento, mas apenas será garantida com o segundo.
Devolução da inscrição: 50%, até o dia 12 de Outubro. Aquele que pagar em duas vezes não receberá de volta a primeira parcela.
Para o Seminário do Rio de Janeiro, enviem email para presidente@fiamek.org, com nome completo, e receberá os dados bancários para depósito.
Para informações sobre o Seminário em Belo Horizonte: http://kalisilatmg. blogspot.com/
ATENÇÃO: Ambos os dias possuem vagas limitadas. Não deixe para a última hora!
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Bantayanes e Tulisanes
A tradição de se tornar cidadãos-guerreiros está profundamente arraigada entre os filipinos e sua prática pode ser rastreada desde tempos pré-hispânicos. A situação volátil das Filipinas durante a época colonial pode ter direta ou indiretamente, afetarado o desenvolvimento das artes marciais filipinas (AMFI) já que constantes ameaças dos piratas e tulisanes (bandidos) forçaram muitos cidadãos a pegar em armas e formar milícias.
Os perigos representados por saqueadores criou duas oportunidades para a disseminação das AMFI - para os mestres, é uma ocasião para ensinar sua arte com o nobre propósito de defender a comunidade. Para os cidadãos, é uma oportunidade de aprender artes marciais gratuitamente. Entre as características mais notáveis das AMFI são a simplicidade e praticidade. Aprendendo com um instrutor capaz, qualquer homem ou mulher podem se tornar funcionais no básico das AMFI em um período muito curto de tempo - os movimentos podem ser aprendidos e utilizados hoje ou amanhã campo de batalha. Essa é simplesmente a maneira como as coisas eram nos tempos antigos - no caso de um ataque iminente por outra tribo, todos os homens capazes na comunidade deviam ser ensinada como lutar no menor tempo possível.
Um Xerife Ifugao.(Arquivo Digital de Fotografias Filipinas, Biblioteca de Coleções Especiais da Universidade de Michigan)
Ramiro Estalilla pertence à antiga casta de escrimadores que viveram o tempo em que o moradores rurais usavam a escrima para se defender dos tulisanes. As memórias de Estalilla foram publicados no livro de Mark Wiley, Martial Filipino Culture, uma parte diz: "Mindanao estava experimentando a devastação da guerra, a formação em armasan (o uso de armas) foi aberto a todos no barrio (distrito) que quisessem defendê-la contra os muitos tulisanes (bandidos). "As aulas foram muito informais", afirma Estalilla. "Os mestres demonstravam as técnicas e quem estivesse interessado arrumava um parceiro e imitava o professor. Alguém poderia perguntar: 'E se alguém te atacasse assim', então o mestre iria mostrar uma resposta e todo mundo iria imitar seus movimentos." Para as necessidades imediatas das pessoas da cidade, o treinamento foi limitado a técnicas no uso de bastão simples e dois bastões. Estalilla recorda que os praticantes de Zambales usavam bastões mais curtos, enquanto os de Cotabato usavam maiores. A principal preocupação desses mestres, no entanto, não foi diferenças técnicas entre as artes, mas a melhor forma de instruir o povo a defender-se e suas famílias. "
A crueldade e o modus operandi dos tulisanes foram observados até por escritores estrangeiros. Robert Mac Micking, em seu livro de 1851 Lembranças de Manilla e das Filipinas, descreveu como os bandidos semeavam o terror entre o povo, "Houvesse uma mais numerosa e eficiente polícia espalhada pelo país, nenhum dos espanhóis teria medo, como muitos deles agora sentem, em viver fora da cidade, ou para fazer excursões distantes no país, por medo dos tulisanes, ou bandos de ladrões que estão espalhados em vários lugares e são encontradas nos bairro da capital, embora não tão abertamente como fizeram no passado. Estes ladrões saqueiam o país em bandos organizado e seus grupos são geralmente ativos a poucos quilômetros de Manila, nas regiões selvagens e florestas da Laguna sendo lugares favoritos, bem como às margens da Baía de Manila, para onde podem vir de noite, sem deixar rastro da direção que tomaram, em grupos de dez a vinte homens de cada vez. Eles têm aparentemente alguns amigos em Manila, que planeiam as suas empresas, enviam-lhes informações e dirigem os seus ataques, de modo que de vez em quando ouvimos que esfaquearam alguns nativos ricos ou casas de Mestizo nos subúrbios de Manila, após o que eles geralmente conseguem fugir antes do alguacil aparecer. "
Durante a colonização espanhola, a ameaça dos tulisanes deu luz aos bantayanes ou vigias. A palavra raiz do termo bantayanes é bantay, que é a palavra Filipina para sentinela. Os bantayanes eram geralmente recrutados entre a população nativa, sendo a coragem comprovada, a principal qualificação exigida. Os bantayanes estavam mal equipados, armados apenas com armas nativas como bancaos e sanduc-os ou ocasionamente velhas armas de fogo.
Greg Bankoff, no livro Crime, Sociedade e Estado nas Filipinas do século XIX retrata uma imagem vívida dos bantayanes, "O sistema de vigias foi estendido para todas as cidades e aldeias, onde eram conhecidos pelo nome Tagalog (N. do T.: principal etnia e dialeto das Filipinas) bantayanes. Os dados relativos a membros desse corpo são escassos, mas eles continuaram a formar a base da segurança das aldeias no século XIX e eram ocasionalmente mencionados nos diários de viajantes europeus. Os Bantayanes serviram como sentinelas na entrada até mesmo dos menores assentamentos, onde foram encarregados de manter as ruas iluminadas e observar os transeunte. Estes vigias foram equipados com sinos para manter contato uns com os outros ou para dar o alarme quando necessário. Os sete ou mais homens que compuseram a força em cada assentamento foram recrutados dos habitantes locais, armados com mosquetões antiquados ou apenas lanças e comandado por um funcionário eletivo, o prefeito alguacil, que estava sob as ordens do gobernadorcillo".
Artigo adaptado de "Bantayanes and Tulisanes", de autoria de Perry Gil S. Mallari.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Seminário Internacional de Kali Silat, com Tuhon Greg Alland
A FIAMEK (Federação Internacional de Arnis de Mano, Eskrima e Kali Silat), em conjunto com a AMKS (Associação Mineira de Kali Silat) traz mais uma vez o renomado Tuhon Greg Alland para o Brasil, em dois Seminários de 7 horas cada um, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
No Rio de Janeiro, o Seminário do Tuhon Greg ocorrerá dia 12 de Novembro, sábado, de 9h às 16h, no Parque do Flamengo.
Em Belo Horizonte, será no dia 13 de Novembro, mesmo horário, no Círculo Militar.
Para os filiados à FIAMEK, cada dia sai a 90 dólares; não-filiados, 120 dólares. No dia, filiados pagam 120 e não-filiados pagam 150.
Os interessados em participar de ambos os dias podem requisitar facilitações de pagamento.
Instrutores de Kali Silat e Kombato que trouxerem um aluno pagam metade; com dois alunos, entrada franca.
O pagamento pode ser feito integralmente, de uma vez, ou 50% para a inscrição e 50% após 30 dias. Sua vaga estará reservada com o primeiro pagamento, mas apenas será garantida com o segundo.
Devolução da inscrição: 50%, até o dia 12 de Outubro. Aquele que pagar em duas vezes não receberá de volta a primeira parcela.
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Livros sobre Artes Marciais Filipino-Indonésias
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segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Lutaos e Labias: piratas e eremitas do antigo Mindanao
Versão adaptada de "Lutaos and Labias: Marauders and Hermits of Old Mindanao", de autoria de Perry Gil S. Mallari. Publicado em 8 de setembro de 2010
Muitas tribos das Filipinas pré-coloniais exibiam extrema afinidade para a guerra. Essa foi a maior força e também a maior fraqueza destes ilhéus. Os espanhóis, vendo este traço perceberam que a melhor maneira de conquistar o arquipélago era jogar as tribos umas contra as outras. Se você não que incitar um nativo duas vezes para lutar, então por que não apenas deixá-los se matarem uns aos outros.
Habitada pelos Moros e várias tribos pagãs, o caos era comum em Mindanao de idade. Um grupo de nativos pouco mencionado nos textos históricos são os Lutaos. O termo "lutao" significa "aquele que nada e vai flutuando sobre a água", que conota a natureza das tribos como moradores do mar. Uma tribo itinerante e extremamente guerreira, os Lutaos foram encontrados principalmente em Basilan e Jolo embora alguns deles tiveram assentamentos estabelecidos em Cebu e Dapitan, segundo documentos espanhóis.
Uma aldeia Moro em Jolo (Arquivo Digital de Fotografias das Filipinas, Biblioteca de Coleções Especiais da Universidade de Michigan).
O Volume 40 de "As Ilhas Filipinas", editado e comentado por Emma Helen Blair e Alexander James Robertson oferece uma longa discussão sobre os Lutaos. Este volume em especial cobre relatos históricos sobre as Filipinas no período 1690-1691.
Em uma parte que descreve o estilo de vida itinerante do Lutaos lê-se: "Essas pessoas odeiam a terra tão profundamente que não se preocupam de todo com seu cultivo, nem em obter qualquer benefício a partir dele. Todo o seu trabalho concentra-se na pesca, onde obtém os meios de troca que eles precisam, mesmo para a lenha que eles queimam e os troncos com os quais constróem suas casas e artesanato. Uma vez que eles são tão pouco apegados à terra, eles facilmente se deslocam para outras partes, não conhecem residência fixa, exceto o mar. Embora reconheçam aldeias em que eles se reúnem, raramente vivem nelas, pois eles estão espalhados pelas baías e praias apropriadas para a sua pesca."
Os Lutaos eram temidos na área por sua natureza guerreira e sua habilidade na construção de embarcações. "As embarcações utilizadas pelos Lutaos para a guerra são como os de piratas: terríveis, construído com particular atenção para a velocidade, tanto para perseguição, quanto para a fuga quando suas ações dessem errado, ou quando o seu missão era perigosa demais"
Melhores armas
Um Lutao dificilmente se considerava completamente vestido sem sua arma. Para suas tarefas cotidianas em tempos de paz, eles carregam um punhal kris. Estas facas são descritas como finamente trabalhadas com empunhaduras feitas de marfim e decoradas com pedras preciosas. Registros indicam que algumas destas armas foram avaliados como valendo 10 escravos cada uma.
"No que diz respeito às suas armas, a nação Lutao é o mais peculiar nestas ilhas, pois sentem toda a glória em ter as mais preciosas e melhores armas possíveis. Todas eles desde a mais tenra idade usam suas armas com tanto cuidado, que nenhum deles cogita sair de casa sem suas armas. O uso de armas é tanto uma questão de reputação, que eles consideram um insulto ser obrigado a ficar sem eles, regulando sua meticulosidade nesta região muito de acordo com as leis de España". (N. do T.: As leis espanholas da época proibiam os nativos de portar qualquer tipo de arma branca)
Um interior de um edifício Mindanao com armas exibidas na parede (Arquivo Digital de Fotografias das Filipinas, Biblioteca de Coleções Especiais da Universidade de Michigan).
Além de adagas, a Lutaos também possuiam lanças ornamentadas, que habitualmente usavam para aterrorizar outras pessoas: "suas lanças mostram o mesmo cuidado que os seus kris, são muito ornamentados e gravado, e têm suas capas douradas. O fuste é do melhor ébano ou de alguma outra madeira bonita, a intervalos colocam anéis de prata ou de lata (N. do T.: o testo original usa a palavra inglesa para estanho) sobre ele. A cabeça é de latão, que é habitual por aqui e tão altamente polida que rivaliza com o ouro. São tão ornamentadas que há lanças que são avaliadas no valor de um escravo. Na extremidade do fuste, prendem um grande sino e quando eles agitam lanças que ressoa ao junto com suas ferozes ameaças. Os valentes as usam como matadoras de homems, avisando àqueles que não distinguem entre eles e os de menor valor, para que possam evitá-los como se fossem víboras ".
Enquanto os Lutaos consideravam o punhal como arma em tempos de paz, o empregavam na guerra particularmente durante combate de perto, "De todas as armas a kris é inseparável e o usam de perto, após terem arremessado suas lanças da maneira usual. "
Outra arma especificamente mencionada no volume é a zarabatana, conhecida entre os nativos como sumpitan, "O uso da zarabatana, que tem o comprimento de uma braza (N. do T.: braça, medida náutica correspondente a 1,8m), espalhou-se dos nativos de Bornéu aos de Jolo e até mesmo para o Lutaos desta ilha. Soprando através dela é que lançam pequenos dardos untados com um veneno tão mortal que se uma gota única de sangue é contaminada, a morte é um resultado certo, se o antídoto não for aplicado rapidamente."
Classe eremita
Em incrível contraste com os Lutaos existe uma classe de eremita chamados Labias dentro da tribo Subanon. Os Subanons (forma espanhola "Subanos"), foram encontrados naqueles tempos no oeste de Mindanao, nas montanhas de Zamboanga e mais para o leste em Cotabato, Misamis, e Dapitan. O nome Subanos significa "Homens dos Rios."
As mulheres Subanons eram conhecidas por sua castidade e modéstia que fez a tribo estimado mesmo pelos Lutaos, "Isso tem assegurado tanto apreço e confiança nesta região que os chefes dos Lutaos, têm suas filhas criadas entre os Subanos, a fim de proteger seus filhas com mais segurança ao invés de levá-las para sua própria nação a menos que seja para casá-las."
O mais interessante é como uma classe de eremita dentro do Subanons, tão dócil na forma e aparência que os estudiosos estrangeiros os rotularam como hermafroditas, conseguiram sobreviver em um ambiente tão volátil como Mindanao, "Entre esta nação há uma classe de homens que professam celibato e são governados pela lei natural, eles são muito estritos e perfeitos em sua observância e tal é o sentimento de segurança em relação a eles, que eles estão autorizados a andar entre as mulheres sem qualquer medo ou desconfiança. Seu vestido é longo como o da mulher, com saias da mesma forma. Eles não usam armas ou se envolvem em qualquer outra coisa que é peculiar aos homens ou se comunicam com eles. Tecem as mantas que são utilizadas aqui, que é do emprego das mulheres e todos as suas conversas são com as mulheres. Portanto, o objetivo de vida que eles seguem vem a ser mais extraordinário por sua peculiaridade e seus perigos, considerando tanto a natureza desse país, e a pouca atenção que eles dão para os seus perigos.
Vivem muito satisfeitos, seja por seus próprios desígnios ou por sua disposição natural, que nunca desacreditaram sua posição como fraquezas. Eram, por assim dizer, eremitas de sua religião e eram tidos em alta estima."
Muitas tribos das Filipinas pré-coloniais exibiam extrema afinidade para a guerra. Essa foi a maior força e também a maior fraqueza destes ilhéus. Os espanhóis, vendo este traço perceberam que a melhor maneira de conquistar o arquipélago era jogar as tribos umas contra as outras. Se você não que incitar um nativo duas vezes para lutar, então por que não apenas deixá-los se matarem uns aos outros.
Habitada pelos Moros e várias tribos pagãs, o caos era comum em Mindanao de idade. Um grupo de nativos pouco mencionado nos textos históricos são os Lutaos. O termo "lutao" significa "aquele que nada e vai flutuando sobre a água", que conota a natureza das tribos como moradores do mar. Uma tribo itinerante e extremamente guerreira, os Lutaos foram encontrados principalmente em Basilan e Jolo embora alguns deles tiveram assentamentos estabelecidos em Cebu e Dapitan, segundo documentos espanhóis.
Uma aldeia Moro em Jolo (Arquivo Digital de Fotografias das Filipinas, Biblioteca de Coleções Especiais da Universidade de Michigan).
O Volume 40 de "As Ilhas Filipinas", editado e comentado por Emma Helen Blair e Alexander James Robertson oferece uma longa discussão sobre os Lutaos. Este volume em especial cobre relatos históricos sobre as Filipinas no período 1690-1691.
Em uma parte que descreve o estilo de vida itinerante do Lutaos lê-se: "Essas pessoas odeiam a terra tão profundamente que não se preocupam de todo com seu cultivo, nem em obter qualquer benefício a partir dele. Todo o seu trabalho concentra-se na pesca, onde obtém os meios de troca que eles precisam, mesmo para a lenha que eles queimam e os troncos com os quais constróem suas casas e artesanato. Uma vez que eles são tão pouco apegados à terra, eles facilmente se deslocam para outras partes, não conhecem residência fixa, exceto o mar. Embora reconheçam aldeias em que eles se reúnem, raramente vivem nelas, pois eles estão espalhados pelas baías e praias apropriadas para a sua pesca."
Os Lutaos eram temidos na área por sua natureza guerreira e sua habilidade na construção de embarcações. "As embarcações utilizadas pelos Lutaos para a guerra são como os de piratas: terríveis, construído com particular atenção para a velocidade, tanto para perseguição, quanto para a fuga quando suas ações dessem errado, ou quando o seu missão era perigosa demais"
Melhores armas
Um Lutao dificilmente se considerava completamente vestido sem sua arma. Para suas tarefas cotidianas em tempos de paz, eles carregam um punhal kris. Estas facas são descritas como finamente trabalhadas com empunhaduras feitas de marfim e decoradas com pedras preciosas. Registros indicam que algumas destas armas foram avaliados como valendo 10 escravos cada uma.
"No que diz respeito às suas armas, a nação Lutao é o mais peculiar nestas ilhas, pois sentem toda a glória em ter as mais preciosas e melhores armas possíveis. Todas eles desde a mais tenra idade usam suas armas com tanto cuidado, que nenhum deles cogita sair de casa sem suas armas. O uso de armas é tanto uma questão de reputação, que eles consideram um insulto ser obrigado a ficar sem eles, regulando sua meticulosidade nesta região muito de acordo com as leis de España". (N. do T.: As leis espanholas da época proibiam os nativos de portar qualquer tipo de arma branca)
Um interior de um edifício Mindanao com armas exibidas na parede (Arquivo Digital de Fotografias das Filipinas, Biblioteca de Coleções Especiais da Universidade de Michigan).
Além de adagas, a Lutaos também possuiam lanças ornamentadas, que habitualmente usavam para aterrorizar outras pessoas: "suas lanças mostram o mesmo cuidado que os seus kris, são muito ornamentados e gravado, e têm suas capas douradas. O fuste é do melhor ébano ou de alguma outra madeira bonita, a intervalos colocam anéis de prata ou de lata (N. do T.: o testo original usa a palavra inglesa para estanho) sobre ele. A cabeça é de latão, que é habitual por aqui e tão altamente polida que rivaliza com o ouro. São tão ornamentadas que há lanças que são avaliadas no valor de um escravo. Na extremidade do fuste, prendem um grande sino e quando eles agitam lanças que ressoa ao junto com suas ferozes ameaças. Os valentes as usam como matadoras de homems, avisando àqueles que não distinguem entre eles e os de menor valor, para que possam evitá-los como se fossem víboras ".
Enquanto os Lutaos consideravam o punhal como arma em tempos de paz, o empregavam na guerra particularmente durante combate de perto, "De todas as armas a kris é inseparável e o usam de perto, após terem arremessado suas lanças da maneira usual. "
Outra arma especificamente mencionada no volume é a zarabatana, conhecida entre os nativos como sumpitan, "O uso da zarabatana, que tem o comprimento de uma braza (N. do T.: braça, medida náutica correspondente a 1,8m), espalhou-se dos nativos de Bornéu aos de Jolo e até mesmo para o Lutaos desta ilha. Soprando através dela é que lançam pequenos dardos untados com um veneno tão mortal que se uma gota única de sangue é contaminada, a morte é um resultado certo, se o antídoto não for aplicado rapidamente."
Classe eremita
Em incrível contraste com os Lutaos existe uma classe de eremita chamados Labias dentro da tribo Subanon. Os Subanons (forma espanhola "Subanos"), foram encontrados naqueles tempos no oeste de Mindanao, nas montanhas de Zamboanga e mais para o leste em Cotabato, Misamis, e Dapitan. O nome Subanos significa "Homens dos Rios."
As mulheres Subanons eram conhecidas por sua castidade e modéstia que fez a tribo estimado mesmo pelos Lutaos, "Isso tem assegurado tanto apreço e confiança nesta região que os chefes dos Lutaos, têm suas filhas criadas entre os Subanos, a fim de proteger seus filhas com mais segurança ao invés de levá-las para sua própria nação a menos que seja para casá-las."
O mais interessante é como uma classe de eremita dentro do Subanons, tão dócil na forma e aparência que os estudiosos estrangeiros os rotularam como hermafroditas, conseguiram sobreviver em um ambiente tão volátil como Mindanao, "Entre esta nação há uma classe de homens que professam celibato e são governados pela lei natural, eles são muito estritos e perfeitos em sua observância e tal é o sentimento de segurança em relação a eles, que eles estão autorizados a andar entre as mulheres sem qualquer medo ou desconfiança. Seu vestido é longo como o da mulher, com saias da mesma forma. Eles não usam armas ou se envolvem em qualquer outra coisa que é peculiar aos homens ou se comunicam com eles. Tecem as mantas que são utilizadas aqui, que é do emprego das mulheres e todos as suas conversas são com as mulheres. Portanto, o objetivo de vida que eles seguem vem a ser mais extraordinário por sua peculiaridade e seus perigos, considerando tanto a natureza desse país, e a pouca atenção que eles dão para os seus perigos.
Vivem muito satisfeitos, seja por seus próprios desígnios ou por sua disposição natural, que nunca desacreditaram sua posição como fraquezas. Eram, por assim dizer, eremitas de sua religião e eram tidos em alta estima."
domingo, 21 de agosto de 2011
Novidades da Semana:
Essa semana que passou foi produtiva aqui na FIAMEK.
Obtivemos nosso CNPJ, portanto agora temos existência jurídica de fato.
Incrementamos o blog, com um novo padrão de cores e um novo logotipo, estudados e projetados pelo designer e Guro de Kali Silat André Pinho, secretário da FIAMEK.
Nesta próxima semana, teremos um artigo interessante sobre povos antigos das Filipinas. E ainda neste mês, teremos a inauguração do site oficial da FIAMEK.
Obtivemos nosso CNPJ, portanto agora temos existência jurídica de fato.
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Nesta próxima semana, teremos um artigo interessante sobre povos antigos das Filipinas. E ainda neste mês, teremos a inauguração do site oficial da FIAMEK.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Novidades Twitterísticas
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