quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Características do Boxe Filipino


O boxe esportivo foi levado para as Filipinas pelos americanos. Inicialmente praticada dentro de bases militares americanas nas Filipinas com o objetivo de promoção da saúde e do espírito de luta entre os militares. Sendo lutadores naturais, os filipinos rapidamente se adaptaram ao boxe como patos à água.
A observação de Frank Churchill, um dos primeiros promotores de boxe nas Filipinas, publicada no artigo "The Origins of Phillipine Boxing, 1899-1929" de autoria de Joseph R. Svinth (Journal of Combative Sport, Julho de 2001), diz: "Havia um grande número ambiciosos rapazes Filipinos que ansiavam glórias no ringue, mesmo à custa de um ferimentos e desfigurações. Estes rapazes lotavam os clubes nas noite de quarta-feira, implorando por uma chance de subir no ringue. Muitos deles não tinham dinheiro suficiente para comprar um equipamento decente, por isso os clubes sempre mantinham um estoque de calções, sapatos, etc, disponíveis para eles. Muitos dos jovens lutadores não usavam sapatos. Eles estavam acostumados a andar descalços e sapatos estragavam seu estilo. "
Pouco depois, a forma única do Boxe Filipino nasceu.
Praticantes de Arnis-Escrima durante este período absorveram totalmente o arsenal fundamental do esporte do boxe como ensinado pelos americanos ou seja jab, cruzado, gancho e então o enxertaram no âmbito do combate com armas.
Um lutador filipino que testou esse método híbrido durante uma competição real foi Lucky (Sortudo) Lucaylucay, caracterizado no artigo "Did the Filipino Martial Arts Revolutionize Boxing?" (As artes marciais filipinas revolucionaram o boxe?) Por Lilia Inosanto-Howe publicado na revista Inside Kung Fu. A seguir, trechos do artigo de Howe: "Lucky Lucaylucay, campeão de boxe amador em Kauai e Honolulu, filho de Buenaventura Lucaylucay, um imigrante filipino que havia se tornara campeão de boxe profissional em Kauai e Honolulu. Lucky Lucaylucay, em primeira mão em primeira mão, viu a fusão das artes marciais filipinas com o boxe ocidental. "Nas Filipinas, o método preferido para luta com facas é com a lâmina apontada para baixo. Se sua prática é baseada apenas em bandas de vazio, você pode levar socos, então a sua estratégia às vezes é baseada em levar um soco. Por outro lado, se sua prática é baseada na luta da faca, você tem trabalhar mais a suam movimentação, esquivas e golpes, pois um movimento errado pode significar a morte. "O Boxe Filipino boxe é exatamente como lutar contra faca, exceto em vez de cortar com uma lâmina, atacar com um punho fechado. Tem de haver algumas modificações. Por exemplo, você precisa de mais potência ao golpear com o punho, então lutamos de perto e usamos um movimento de chicote para golpear com mais potência. "Como diz o ditado," Você não pode argumentar contra o sucesso. "Assim, como militares e boxeadores visitantes provaram da  estratégia filipina de boxe, eles rapidamente adotaram as técnicas. O que antes era um estático concurso de "cara mais durão", logo incorporou conceitos como combinações, sequências, ângulos e conceitos fluídos familiares a qualquer praticante de artes marciais filipinas "Se você olhar para o velho modo Inglês de boxe, não havia nenhum bloqueio ", diz Lucky. "Não há controle. Eu costumava assistir meu pai e Kid Moro (um  campeão filipino de boxe) lutar, seu controle era tão soberbo que costumavam treinar sem luvas, com plena utilização de energia nos golpes, e eles poderiam parar de uma fração de uma polegada antes do golpe fazer contato com o outro. Nunca houve uma lesão. "
É bom notar que as Filipinas durante a virada do século 20 foi essencialmente um país agrícola com uma orgulhosa cultura de lâminas. Fosse como enxada ou uma arma de guerra, os filipinos daquele período dependiam da lâmina para a sobrevivência.
Não é pois de estranhar que afinidade dos filipinos com as lâmina continuasse com eles ao abraçar e se destacar no novo esporte do boxe.
A capa da edição de setembro de 1939 da Ring Mag Ceferino: Garcia, o mestre do soco bolô.
Um bom exemplo é o soco bolô (facão) cuja invenção foi atribuída ao filipino campeão mundial de boxe Ceferino Garcia, natural de Naval, Biliran, que ganhou otítulo mundial dos médios em1939. A capa da edição de setembro de 1939 da Ring Mag (Revista do Ringue) apresenta o lutador filipino com a seguinte legenda: ". Ceferino Garcia, Peso-médio filipino e Mestre do Soco Bolô"
Garcia, que em sua juventude cortva cana em sua província natal, empregou o mesmo movimento de corte diagonal para cima do bolo em criar o soco bolô.
O boxe filipino, que é uma fusão do boxe ocidental e conceitos das Artes Marciais Filipinas (FMA)  apresenta características únicas que o diferenciam do padrão do boxe esportivo.
Muitas técnicas de boxe filipino se assemelham ao boxe sujo ou ilegal e portanto, não pode ser usadas em competições regulares de boxe. No entanto, eles poderiam ser de uso importante na luta de rua ou as artes marciais mistas.
A característica mais importante e distintiva do boxe filipino é que ele considera os membros superiores (o comprimento dos braços para os punhos) como alvos legítimos, em adição aos alvos legais do boxe esportivo. Isto foi, naturalmente, emprestado da luta filipina com lâminas (N. do T.: kali, arnis, eskrima) que trata as veias e artérias que passam ao longo dos braços também como alvos.
Lutando com as mãos vazias, a destruição dos membros é realizada através de chaves do cotovelo, bem como impactos de punho e cotovelo nas áreas ricas em nervos.
Uma técnica básica do Boxe Filipino é deixar o punho do seu oponente colidir com a ponta de seu cotovelo.
Outro atributo distinto do Boxe Filipino é o uso de golpes descendentes e do emprego sorrateira de superfícies impacto além do punho e cotovelos, como os antebraços, bíceps e ombros. Cabeçadas também também são amplamente utilizadas.
Todas as técnicas acima são também utilizadas na versão suja ou ilegal do boxe ocidental.
Mark Hatmaker, autor e autoridade no pugilismo e luta livre ocidentais mencionou em seu vídeo instrutivo "Extreme Boxing" sobre alguma similaridade de táticas entre boxe ilegal ocidental e o boxe filipino. Uma técnica que Hatmaker menciona é o "popper". Nesta técnica, o boxer, a partir da posição de clinch, simula desferir um soco atrás da cabeça de seu oponente, em uma tentativa de golpeá-lo na lateral do rosto com o seu bíceps ou antebraço. Poppers são usados ​​para distração ou como uma transição para um pesado golpe.
Dentro dos círculos das FMA, o Boxe Filipino é conhecido como "panuntukan", cuja etimologia é derivada da palavra "suntok", que é uma palavra Tagalog para soco - "suntukan" significa trocar socos.
É uma incrível coincidência que aceitação do boxe pelos filipinos tenha se dado através da perspectiva da luta com facas e mostrar fortes paralelos com a forma como o boxe foi reintroduzido na Inglaterra após um longo hiato desde o tempo dos gladiadores. Em "A Saga do Punho" John V. Grombach escreveu: "Quando a esgrima retorou á Inglaterra, foi introduzido através mestres de esgrima. Como resultado, a postura do boxe foi criada para imitar a postura, com bons resultados. A esta altura, a esgrima tinha avançado ao ponto que uma a pequena espada ou arma perfurante era preferida ao espada ou sabre. O uso da estocada  em linha reta ou mergulho foi desenvolvido em contra-ataque a qualquer investida lateral ou corte. Os princípios de avançar, recuar e muito da movimentação do boxe moderno e os socos retilíneos vieram da esgrima."

Publicado originalmente em "Characteristics of Filipino Boxing", de Perry Gil S. Mallari, em 20 de outrubro de 2010


N. do T.: No inglês, assim com transliteração do tagalog, bolô não leva nenhum acento. Eu optei por acentuar para diferenciar do bolo culinário.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Dog Brothers Euro Gathering 2011

Dog Brothers Tribal Gathering 2010

Garote - o bastão de combate das Filipinas


O garote é um bastão de madeira popular entre escrimadores da velha guarda. Normalmente possui uma forma plana, como uma espada, o garote é obviamente um bastão de combate para duelos e situações de vida ou morte.
O termo "garote" que se refere ao bastão como arma é de origem espanhola. 
Apesar de haver muitas variedades de madeiras nas Filipinas, há uma regra não escrita para escolher o tipo certo para fazer um garote, que a madeira deve ser densa o suficiente para parar um ataque de bolo (facão). Entre os escrimadores de outrora, era sinal de grande habilidade e coragem derrotar um ataque com bolo, com uma bastão.
Dentro dos círculos da escrima,  é comum o debate sobre quais vantagens o garote de madeira densa teria contra o bastão mais leve, de rattan, quando usado em uma luta real.
A vantagem mais óbvia do rattan sobre a madeira é a leveza, o que significa que o portador pode brandir seu bastão maior velocidade e efetuar mais golpes por segundo. Outra vantagem do rattan é que suas fibras flexíveis ajudam a dissipar o impacto, impedindo a transferência direta da força para a mão do portador durante o bloqueio de um impacto. A natureza do material que uma arma é feita de afeta profundamente a maneira como ele absorve impacto. Sobre isso, eu quero usar um exemplo de fora da luta de bastões. O problema de absorver impactos é uma das principais razões pelas quais polímeros são usados na construção de modernas armas de fogo. A elasticidade inerente ao polímero distribui energia melhor do que o aço.
Enquanto o pequeno peso e a flexibilidade da bastão de rattan trazem as vantagens da maior velocidade e melhor absorção de impacto, estes dois atributos também lançam dúvidas sobre o poder de parada da arma. O rattan é capaz de causar danos graves ao atingir áreas de tecidos moles como os olhos e garganta, mas não é páreo para o seu homólogo de madeira, quando se deseja a fragmentação de ossos.

Bastões Filipinos de madeira dura. Foto de Perry Gil S. Mallari
Quando um bastão atinge carne e osso, o rattan reage diferente do que um garote de madeira. Em um episódio do programa Time Warp TV (no Brasil, Supercâmera), com alguns membros dos Dog Brothers, uma cena mostra Nick Papadakis levando uma batida direta do bastão em seu antebraço. No replay em câmera lenta, foi possível observar a vara de rattan flexionando sob impacto no antebraço de Pappadakis. Neste caso, a flexibilidade do rattan impediu a arma de infligir sérios danos no alvo.
Por outro lado, um garote de madeira embora capaz de rachar um crânio com um golpe, poderia ser complicado de usar devido ao seu peso. O garote pesado é melhor usado para golpes longos ao invés de pancadas secas. Dan Inosanto, em seu livro clássico de Artes Marciais Filipinas oferece uma visão profunda sobre a dinâmica do movimento de armas pesadas a que pertence o garote, ele escreveu, "O arco longo é uma simples elipse que mantém o mesmo diâmetro do começo ao fim. Em combate, o arco longo ocorre mais freqüentemente com a arma longa ou pesada. A trajetória elíptica de uma arma muito pesada pode se alongar ainda mais com o peso e força centrífuga da arma em movimento, forçando o braço a esticar. "
Mesmo se um escrimador não está interessado em duelos reais, praticar com um pesado garote trará muitos benefícios, entre eles força e desenvolvimento de energia (rattan pareceria incrivelmente leve após alguma prática com um garote), controle de armas, bem como fineza de movimentos.
Não há regras rígidas sobre como segurar o garote. Eu vi um filme de um idoso mestre filipino segurando o garote "dos manos" (com as duas mãos) por facilidade de manipulação, sua técnica básica sendo o movimento em oito (chamado ocho-ocho). 
Na prática, o escrimador pode desenvolver maus hábitos para compensar o peso do garote (se ele está acostumado a empunhar o bastão leve de rattan) ou ele pode aprender a refinar a mecânica de seu corpo, a fim de controlar a arma. De maneira simples, apenas dois resultados podem ocorrer: ou você aprende a controlar o garote ou deixar que o garote controle você.
A biografia do Mestre filipino Amante Mariñas, publicada no livro Filipino Martial Culture, de Mark Wiley, narra a experiência de seu treinamento com um garote pesado, "Se você quer se tornar bom você deve praticar, praticar, praticar", afirma Mariñas. "Ao mesmo tempo, eu fiz 20 mil ataques em um dia. Levei seis horas. No dia seguinte, meu braço estava cansado, mas eu não parei de praticar. Eu desenvolvi 'cotovelo de arnis' (N. do T.: espécie de distúrbio ósteo-muscular, causado pelo movimento repetitivo, overtraining), porque eu estava usando uma bastão de anahaw que pesava cerca de um quilograma. Brandir foi fácil, mas era difícil estocar com o bastão pesado. "
No fim, eu gostaria de postular que o uso do bastão de madeira pesada tem uma raiz antiga e não foi um desenvolvimento mais recente nas artes marciais filipinas. Certo tipo de armaduras pode ter provocado os guerreiros das Filipinas pré-coloniais a usar armas de impacto, em vez de armas brancas. Uma estocada ou corte de faca em uma armadura de couro resistente de animal ou de tiras de kamagong (N do T.:madeira escura, muito dura e densa, nativa das filipinas, do mesmo gênero do Ébano) ou kapok (N do T.:sumaúma, do mesmo gênero da paineira) pode revelar-se ineficaz, mas um golpe com um bastão de madeira pesada ainda pode quebrar os ossos debaixo da proteção.

Traduzido e adaptado de "The garote fighting stick", de autoria de Perry Gil S. Mallari.
Publicado originalmente em 23 de agosto de 2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

FIAMEK e RKC

Para quem não sabe, RKC é o Russian Kettlebell Challenge.
Kettlebell é um implemento de musculação e condicionamento físico.

A produção de Kettlebells no Brasil é coordenada desde 2008 pelo presidente da FIAMEK, Daniel Villela, para a Kombato Ltda.
A ferramenta tem origem na região das antigas repúblicas soviéticas, mas é bem mais antigo do que estas, sendo primeiro registrado em um dicionário russo há mais de 400 anos. Tendo sido conhecido por todo o século XX mas ignorado com o advento da Guerra Fria e do fisioculturismo americano, o Kettlebell foi reintroduzido nos Estados Unidos por Pavel Tsatsouline, que aparece na foto abaixo com o Presidente da FIAMEK, Daniel Villela. A partir da divulgação nos EUA, se espalhou para o mundo e encontrou grande aceitação nas artes marciais, especialmente após ser divulgado que o lutador de MMA, Fedor Emelianenko, os usava em seu treinamento.
O Presidente da FIAMEK, Daniel Villela com Pavel Tsatsouline.
Agora, o leitor pode estar se perguntando: "O que tem a ver Kettlebells com Artes Marciais Filipino-Indonésias?".
Como implemento de condicionamento físico, o Kettlebell pode ser usado por qualquer um que queira melhorar sua força, explosão muscular, condicionamento físico geral. O Daniel treina Kettlebells já há algum tempo e naturalmente se interessou por aprender mais. Após três dias de aprendizado refinado das técnicas e mais de 10 sessões de prática, foi-lhe conferido o título de instrutor RKC, válido por dois anos, dentro dos quais ele deve retornar para certificação. No Brasil, há apenas mais 3 certificados, incluindo outro brasilieiro, presente no mesmo evento que o presidente Daniel Villela.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pukulan Cimande Kombinasi, em São Paulo, Bauru

Em  20 de novembro, Masguru Paulo Albuquerque vai ministrar cursos introdutórios de Silat, da Escola Pukulan Cimande Kombinasi (PCK International) no estado de São Paulo, na Capital e Bauru.


Para quem tem dúvidas sobre o que é o Pukulan Cimande Kombinasi, pode ver este vídeo com o Guru Besar Jerry Jacobs. Guro Jacobs é um dos maiores especialistas em Silat fora da Indonésia. Ele esteve no Brasil no começo de 2011 quando pode conhecer e treinar com seus discípulos brasileiros, incluindo Masguru Paulo Albuquerque.
Guru Jacobs e seus alunos brasileiros, em Janeiro de 2011
O site da PCK mostra a lista de instrutores reconhecidos.

Quem tiver interesse, entrar em contato com o Guru Rodrigo Okubo na capital, ou Tagpagnay Douglas em Bauru.

As inscrições saem a R$ 100 reais, filiados da FIAMEK pagam apenas R$ 80.

Emails para contato:
Rodrigo Okubo: gouki ponto kombato arroba gmail ponto com
Douglas Gonzales: kombato bauru arroba yahoo ponto com  ponto br

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Curso de FMA MMA em Brasília DF

Neste final de semana, 24 e 2 de setembro, o Professor Richard Clarke estará em Brasília, ministrando o seminário:

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Fontes e premissas


Arnis ou escrima? Kali ou Kalí? Panggamut ou panantukan? Silat ou dumog? Não é raro que tais perguntas apareçam em fóruns e espaços de redes sociais, além de preencherem a caixa de email de muitos professores de Artes Marcias Filipino Indonédias (AMFI). Claro que há definições mais precisas para cada uma delas, e muitas são claramente diferenciáveis, mas por vezes a confusão e o excesso de termos causa atrito entre escolas.

O nome de cada arte deve, por indução lógica, se relacionar com o desenvolvimento das técnicas nela ensinadas e com os indivíduos que as inspiraram ou conceberam. Isto não é difícil de compreender, mas por vezes engana. Por exemplo, o Kali Kilat é muitas vezes interpretado como uma escola nomeada pela aliteração da palavra Silat, quando na verdade se baseia no sistema ensinado pelos descendentes de Leon Kilat, herói da revolução Katipunan.

Triste, porém, é observar o desejo vaidoso de alguns de fabricar histórias para justificar a superioridade de um nome sobre outro, levando tal “credencial” para as técnicas de seu estilo. Muitos dos que começaram a praticar a arte marcial na vida foram levados a crer em histórias heróicas e pouco objetivas, acerca de personalidades que representavam o espírito guerreiro e a grandiosidade de tal arte. As AMFI não são diferentes.

Como presidente da FIAMEK meu compromisso se dá com a cultura marcial filipino-indonésia e com os praticantes e escolas filiadas. Vejo então como imperativo alertar aos novos praticantes e aos antigos da tolice que é repetir histórias que não se pode provar nem mesmo referenciar, principalmente no que tange os nomes e símbolos. Vocês observarão, no Blog e futuramente no site da FIAMEK, que todos os textos são referenciados e todos os créditos são dados aos autores.

Da mesma forma que pessoas com nomes fortes não são automaticamente ativas, líderes ou poderosas, o praticante constrói o nome de sua arte. Sua conduta, suas palavras e o respeito que ele oferta aos que estudam outra linhagem (seja ela milenar ou recém-formada) irão colorir a imagem de sua arte. O invencionismo é normalmente acompanhado do anonimato e tanto a origem falsa quanto o boato depreciativo são prejudiciais para ouve e para quem fala. Em miúdos: cheque suas premissas e fontes. Ter um nome milenar ou não de nada adianta no combate.

Em alguns dias teremos um artigo sobre o símbolo da FIAMEK, concebido de forma inclusiva e abrangente, para não favorecer qualquer escola ou estilo, mas sim a cultura. Esperamos que o futuro da Federação seja assim, de união e respeito, pois este é o único tipo de sucesso que merece ser comemorado.

Mabuhay, maraming salamat po.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Semana na FIAMEK

O que aconteceu de importante na semana que passou?

Abrimos a semana com um artigo sobre Bantayanes e Tulisanes povos antigos das Filipinas, da ilha de Mindanao.

Na terça republicamos um pedido para resenhas de livros e o aviso sobre o Seminário de Kali, da escola Sina Tirsia Wali.

Ainda na terça, abrimos a série de artigos sobre o karambit, uma das armas mais exóticas do arsenal dos mandirigmas. O primeiro artigo, sobre a História do karambit foi publicado na quinta-feira.

Na quarta, podemos aprender um pouco sobre o Relacionamento entre o boxe inglês e o boxe filipino.

Nesta semana inauguramos a nossa página no facebook, visite e curta!

Relembrando os eventos ainda por vir:

  • Curso de Dumog com o Guro Marcus Salgado (STW) no dia 18 de setembro.
  • Curso de Panggamut com Guro Richard Clarke (STW) - turma em formação
  • Seminário Kali Sina Tirsia Wali, com Tuhon Greg Alland, 12 de novembro no Rio, 13 de novembro em BH.


É isso aí, tenha um bom final-de-semana, bons treinos. Nos vemos na semana que vem.

Maraming salamat po.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A História do Karambit


No primeiro artigo da série sobre o karambit, a FIAMEK apresenta um resumo da história dessa intrigante arma.


Por Steve Tarani


Desde tempos imemoriais, diferentes culturas ao redor do globo desenvolveram ferramentas diferentes com base em suas necessidades. Algumas desenvolveram ferramentas de pesca superiores, enquanto outros desenvolveram ferramentas para a agricultura. Projetos de ferramentas e sua aplicação são um resultado direto da época e geografia. Uma tribo que habite à beira-mar desenvolve ferramentas diferentes daquelas de uma tribo montanhosas ou das planícies. Quando os povos migram de uma localização geográfica para outra, eles levam consigo suas ferramentas e modo de vida - às vezes de forma pacífica, como na migração, e outras vezes pela guerra, como no caso de conquista.





De acordo com os meus mestres e da tradição oral que foi transmitida de mestre para discípulo por séculos, antes de 1280 dC, a maior parte de Java Ocidental fazia parte dos reino Pajajaran. A tribo Badui de Java Ocidental, o povo aborígene de Sunda, considerado do grupo étnico Pajajaran, viveu de forma relativamente pacífica até a vinda do império Majapahit (circa 1351 AD). Naquela época, a tribo Badui rapidamente migrou para a região montanhosa acidentada do ocidente, trouxe as suas armas com eles e manteve-se independente..
Steve Tarani treinando em Java Ocidental com Bapak Sesepuh S, Suherman da escola de Pencak Silat Budhi Kancana Pusat, em 1995.






Os antigos reis de Sunda eram considerados muito poderosos. Quando um rei morria, seus súditos acreditavam que seu espírito voavam pela selva e tornava-se o espírito de um tigre. Existem dois termos para o tigre que domina as selvas de Java Ocidental. Um deles é Harimau, que é o a palavra no dialeto Bahasay indonésio para o tigre, o outro é Pak Macan (pronuncia-se "Pah-mah-chahn" - às vezes escrito Pamacan), que quer dizer "grande tigre". Assim, o grande tigre é muito venerado pelos Sundanese. Os povos de Sunda foram tão impressionados pelo poder e ferocidade do Pamacan, que a lâmina comum do povo foi modelada segundo a forma da garra do Pamacan. Esta grande lâmina ficou conhecida como Kuku Macan, ou "garra de Pamacan". Traduzido literalmente como "Garra de Tigre", o Kuku Macan era não só reverenciado simbolicamente, mas também empregado na prática.


Originalmente brandido no campo de batalha, o grande Kuku Macan era um pouco complicado de manipular, por isso foi reduzido a tamanhos menores, que aumentou sua manobrabilidade. Muito parecido com o que ocorreu com as espadas da antiga Europa, que acabaram sendo reduzidas de uma pesada arma de duas mãos para uma arma leve, usada com uma só mão. Diversas variações do Kuku Macan foram desenvolvidos com base no seu uso prático. Como diz o ditado, "A necessidade é a mãe da invenção". Assim como o desenvolvimento do punhal ocidental, o desenho do Kuku Macan passou a tamanhos menores até chegar ao menor tamanho - o Karambit de uso pessoal.

O Karambit também é chamdo como Kuku Bima (literalmente "a garra de Bima"). Antes do Século 12, como resultado do estabelecimento hindu no arquipélago da Indonésia, vieram o Mahabharata ("grande épico da dinastia Bharata") e o Ramayana, dois épicos importantes da Índia, valorizados tanto pelo elevado mérito literário e quanto pela inspiração religiosa. Contido no Mahabharata está o Bagavadgita ("canção do Senhor"), que é o texto religioso mais importante do hinduísmo. Bima é um dos personagens mais venerados da Mahabharata.







Também conhecido como Kuku Hanuman (literalmente "garra de Hanuman", um personagem do Ramayana, à direita), a garra mágica, que se sobressaem entre o centro das mãos de Bima e Hanuman - tornou-se reconhecida como um símbolo das artes marciais do arquipélago indonésio, principalmente o Pencak Silat e é muitas vezes atribuída como uma das raízes do desenho dos Karambits.


A curvatura graciosa e eficiente da garra do tigre (projetada pela mãe natureza) em combinação com as armas mística dos personagens antigos do Mahabharata e do Ramayana - o Kuku Macan, Kuku Bima ou Kuku Hanuman - foram forjados juntamente aço e osso, pelos primeiros habitantes da aldeia para criar o antigo Karambit. Nos tempos modernos, o Karambit (agora muito menor do que seu ancestral geurreiro) é hoje reconhecido internacionalmente como uma arma tradicional do Pencak Silat Indonésio.

Quando um lutador desembainhava um Karambit em campo de batalha na antiguidade, a ponta estava quase sempre manchada com algum tipo de veneno mortal, que atuava quase instantaneamente após a entrada na corrente sanguínea através de laceração da carne. Mesmo o menor corte era suficiente para lançar o veneno na corrente sanguínea. O conhecimento e uso de venenos derivados de várias espécies de sapos venenosos, cobras, escorpiões e aranhas eram considerados um elemento essencial do arsenal de combate aproximado de um guerreiro. Estes venenos aceleravam rapidamente morte e eram temidos por sua força letal quase instantânea. Esta é outra razão pela qual as técnicas do Pencak Silat e de sistemas como Sabetan e Rhikasan focam na imobilização das mãos em distâncias curtas.





Os Karambits pessoais (versão menor do Karambit campo de batalha) foi concebido essencialmente para o atingir nervos e articulações. Como resultado de tal pequena superfície, a maioria dos cortes não pode ser feita a uma profundidade suficiente para matar alguém. É por isso que o Karambit pode ser considerado uma ferramenta de defesa pessoal. Em contraste, a lâmina da Karambit Besar (uma versão maior ou de combate do Karambit pessoal) permite cortes mais profundos. De acordo com os antigos, o Karambit de combate era o preferido, não só por seu comprimento superior, mas pelo fato de que você poderia, como resultado da aresta de corte longo, "espalhar as entranhas dos seus inimigos no chão". No entanto, assim como no Ocidente, o advento das armas de fogo funcionais, tornou as armas brancas obsoleto no campo de batalha e relegadas ao uso como facas utilitárias que vemos hoje.



Muitas vezes usado como última linha de defesa nos tempos antigos, quando a maior Clurit se tornava inoperável, os alvos do Karambit pessoal incluíam os olhos, testículos, o tendão de Aquiles, artéria carótida, bíceps, antebraço e punho. Um alvo particularmente desagradável dos tempos antigos era a clavícula (clavícula). Executado com perfeição, o Karambit iria atingir a clavícula com sua ponta para baixo e então, rapidamente virando a palma para cima, usando seu peso corporal, agarraria o osso, inutilizando assim o braço de seu inimigo.

Especificamente concebido como um arma de defesa pessoal aproximada, o antigo Karambit  era bastante difícil de ver, devido ao seu método de emprego por estar escondido pelos dedos. Duplamente ameaçador por não poderiser desarmado, como resultado do desenho de sua empunhadura. Único ao Karambit entre todas as lâminas, é sua habilidade de de adaptar á diferentes distâncias de luta sem alterar a posição do braço do lutador. Era também a única lâmina utilizada em batalha que podia cortar duas vezes com um único movimento de braço. Todos as outras lâminas da época precisavam de um movimento para cada corte. No antigo campo de batalha o Karambit era único porque:
  • Não podia ser facilmente visto
  • Não poderia ser facilmente desarmado
  • Poderia mudar de distância sem o movimento do corpo
  • Poderia efetuar dois ataques em um movimento de braço único.





Bapak Suherman - um dos mestres do passado Karambit e professor de Guru Besar Herman Suwanda.




Embora uma arma bastante notável e tão feroz quanto parece, sua aplicação primária na era moderna é utilitária. As muitas funcionalidades desta ferramenta realmente o diferenciam dos outros tipos de facas utilitárias. Usados ​​no treinamento de artistas marciais que praticam a arte de Pencak Silat, e em alguns casos utilizado como um instrumento de defesa pessoal (como qualquer canivete moderno ou até uma faca de carne!), Sua pequena ponta e comprimento da lâmina não contribuem para a golpes letais e os Karambit não podem ser usados para estocadas eficazes e portanto, não pode ser considerados punhais.
No entanto, quando usado corretamente, pode ser a motivação suficiente para qualquer pretenso atacante procurar outra vítima!
Originalmente usado como segunda arma, o Karambit poderia ser empregada como um "adicional" em estilos específicos ou sistemas de treinamento. Por exemplo, os sistemas Cikalong e Rhikasan da Mande Muda Pencak Silat, são sistemas-base de imobilização das mãos e técnicas de combate aproximado. Uma vez que você se tornou proficiente na aplicação destes sistemas com as mãos nuas, você pode então, facilmente adicionar o Karambit a sua técnica.





Hoje, embora não mais usado no campo de batalha, o Karambit é empregado como uma ferramenta utilitária, uma ferramenta no treinamento de artes marciais e também pode ser usado para a proteção pessoal no combate de perto como uma última linha de defesa.
No século 21, nos Estados Unidos, o Karambit se fez muito popular entre campistas, caçadores, praticantes de artes marciais, colecionadores, entusiastas de facas e cidadãos preocupados em defesa pessoal, que optam por carregar uma faca que também possa ser usada em caso de agressão. Como acontece com qualquer boa ferramenta, é responsabilidade do seu proprietário para saber como cuidar e operá-lo com segurança.





Traduzido e adaptado de "History of the Karambit", de Steve Tarani

"A FIAMEK - Federação Brasileira de Representação Internacional de Arnis de Mano, Eskrima, Kali, Silat reconhece que tradicionalmente as Artes Marciais Filipino-Indonésias eram usadas para finalidades bélicas, sejam de conquista ou defesa, bem como para defesa pessoal dos nativos contra seus agressores. No entanto, dada a natureza do treinamento e o ordenamento legal vigente no Brasil, a FIAMEK repudia qualquer forma de agressão injustificada praticada por qualquer de seus filiados e poderá aplicar sanções, na forma dos Estatutos e Regulamento, sem prejuízo de quaisquer ações judiciais cabíveis."